domingo, 14 de outubro de 2012
Palavra (Para Bia Bedran)
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Deficiências
terça-feira, 18 de setembro de 2012
"Cansadidades"
domingo, 9 de setembro de 2012
A Fraqueza do Homem Forte do Circo
sexta-feira, 27 de julho de 2012
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Erros e Esquecimentos
domingo, 3 de junho de 2012
Dâmocles
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Envelhecendo
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Palavras Vazias
domingo, 15 de abril de 2012
Sementes

Joguei ao vento
sementes em forma de palavras
na espera que terrenos
de ouvidos férteis
as recebessem,
permitindo-lhes brotar.
Para onde os ventos
sopraram tais sementes
não sei responder.
Sementes se foram
como pássaros
a voar em outros céus,
outros ouvidos,
sem pouso certo.
Cabe-me apenas
continuar minha faina
de semeador de palavras
para os ouvidos do mundo,
esperando um dia,
poder colher
abundantemente,
os frutos daquilo
que outrora semeei.
Te amo!

Te amo!
Ainda que nossos lábios
há muito não se toquem,
que o seu sabor
não faça parte de meu paladar,
que seu cheiro não fique
preso em meu corpo...
te amo!
Te amo
por ser você
que me faz feliz
com seu sorriso,
seu olhar,
com o brilho de seu olhar
e de seus cabelos.
Te amo
como se fosse a única.
a única mulher
a despertar em mim
a alegria de amar
e de me sentir amado.
Ainda que nossos dedos
não se entrelacem,
nossos corpos
não traduzam
sentimentos,
não se conversem
como poderiam fazer,
te amo,
pois é este amor
que me envolve,
que me renova
e me faz buscar,
ainda que distante,
o desejo de
te amar
a cada dia
que passo,
a cada momento
que passo
ao teu lado.
sábado, 14 de abril de 2012
Distância e Silêncio

O vazio das palavras,
o silêncio constante,
ainda que,
com ruídos no pensamento,
causa o distanciamento.
Palavras não ditas,
servem de motivos
para cada vez mais,
aumentar a distância
daqueles
unidos por outros laços.
O pensamento não é suficiente,
as palavras não ditas,
não conversadas,
aumentam ainda mais
o incômodo que
ao ampliar-se,
faz ampliar também,
a distância que se abre.
O distanciar-se provoca
o esquecimento...
laços se rompem,
num desacostumar
da companhia,
da inteireza de outrora
que agora,
no silêncio das palavras,
ainda que no pensamento,
insiste em ecoar
no vazio que a distância
fez surgir.
Olhos e ouvidos atentos
de momentos já vividos,
esperam o andar dos
ponteiros do tempo,
para mais uma vez
verem-se sozinhos,
caminhando,
sem o sonho
de ter ao lado
aqueles muito amados,
que outrora
convidamos
a sonhar em conjunto,
a vida que belamente
se descortinava
à nossa frente.
Só resta
o silêncio...
terça-feira, 10 de abril de 2012
Os Ponteiros do Tempo

Os ponteiros do relógio
andam em seu ritmo contínuo,
indicando aos observadores
que o passar do tempo
deixa pra trás
as oportunidades de retomar
aquilo que se esvai,
que escorre
como a areia,
de uma ampulheta quebrada,
por entre os dedos.
O tempo que passa
não volta atrás
e qual, um mestre implacável,
não ensina duas vezes
a mesma lição.
Os ponteiros insistem em andar
tranquilos,
sem a pressa habitual
que toma a vida
dos homens que,
não conhecendo
a paciência do tempo,
veem passar momentos,
momentos ricos
para que palavras mudas
voltem a soar,
ainda que não ecoem
em ouvidos egoístas
de pessoas que,
mesmo com o passar do tempo,
insistem
em não aprender,
ou não conseguem
enxergar aquilo,
que como
os ponteiros girando,
está a um palmo
do seu nariz.
sábado, 7 de abril de 2012
A vida me cansa...
Tem horas
que a vida me cansa...
me cansa,
quando tenho que repetir sempre
as mesmas palavras
que, de tanto pronunciadas,
já secaram na garganta.
Palavras
que perderam o sentido,
uma vez que foram ouvidas
por ouvidos frios,
vazios e egoístas
de quem não busca mudar,
alçar novos voos e atitudes
em prol de algo
que se esperava construir.
A vida me cansa
quando observo
que as lições aprendidas
ou ainda ensinadas,
de nada adiantaram,
ou então bateram em
pedra fria, cinzenta
que insiste em manter-se
firme ali,
longe de tudo,
impedindo passagens e
atrapalhando caminhos,
com a teimosia
ou a ignorância teimosa
que insiste em medir forças
com a suavidade do vento
ou da água
que não desiste de bater.
Queria ser como a água,
insistente,
firme em seu bater,
mas me faltam forças,
pois cansado da vida,
prefiro seguir em frente,
desviar o caminho
e retomar o meu caminho,
aquele que fiz sozinho,
e que talvez não devesse
ter abandonado.
Estou cansado...
a vida me cansa.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Quebrando

Pare,
escute...
Algo está se quebrando!
Será que ainda
há tempo de impedir
a quebra, o rompimento?
A resposta não pertence
a quem indaga,
mas muitas vezes,
àquele que causou tal questão.
E esse alguém,
muitas vezes,
não percebe o quanto contribui
para que a quebra se dê.
Se atitudes podem trazer quebras,
da mesma forma,
são elas que podem impedir
que algo se quebre.
Atitudes porém,
muitas vezes,
deixam de ser tomadas,
por orgulho,
distração ou ainda
por comodismo.
Se não quer que se quebre,
o que espera para
fazer algo que
impeça este quebrar?
Quanto tempo esperará
para se arrepender,
ao ver quebrado
aquilo que não deveria quebrar?
O tempo que passa,
deixa lições,
ainda que mudas,
que podem transformar
aqueles que realmente
querem aprender.
Escute,
outro som...
talvez a quebra esteja
mais próxima
e seu tempo esteja chegando ao
fim.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Perdas

A perda da voz,
da vez,
do voo,
da vida,
dos sonhos...
São tantas perdas
vividas, sentidas
que algumas perguntas
ficam na alma.
Se perdas são necessárias,
se precisamos passar por elas,
por que doem tanto?
Por que fazem sangrar a alma?
Acredito que seja
porque, dentro das perdas,
está a perda dos sonhos...
e esta perda,
mais do que as outras,
faz morrer no mais íntimo do ser
a vontade de seguir em frente,
de falar...
faz morrer as palavras
que ecoavam na voz,
na vez,
na vida,
que cansada de sonhar,
de falar,
de vibrar,
procura no sono,
na letargia da alma
o sentido
das palavras
que se tornaram vazias,
nos ouvidos moucos
que não souberam ouvir.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Trincas

Na vida,
nos laços...
algumas coisas podem se quebrar,
e quando quebradas,
não voltam ao que eram antes.
Um cristal quando rachado
jamais será como antes.
Ainda que o consertem,
com cuidado esmerado,
com habilidades ímpares,
a trinca sempre estará lá.
Na vida, como cristais
algumas trincas imperceptíveis
vão se formando,
aumentando
e sem que as percebamos
terminam por quebrar
ou danificar aquilo
que não deveria ser danificado.
Olhos atentos,
ouvidos abertos...
nada adianta se a sensibilidade,
o que diferencia um ser do outro,
não estiver pronta
para entender
que tais trincas,
antes que aumentem de tamanho
e danifiquem o que não
poderia ser danificado,
precisam ser cuidadas,
enquanto ainda há tempo,
enquanto ainda são imperceptíveis
a olhos nus,
sentidas apenas pelo sentir
que une as pessoas...
É nestes momentos,
quando o tempo
para de correr apressadamente,
que algo pode ser feito,
que é possível fazer
desaparecer a trinca insistente,
usar o coração,
para fazê-la deixar de existir e,
ao contrário da quebra,
trazer o fortalecimento dos laços.
domingo, 1 de abril de 2012
Palavras Mudas

Quando as palavras
secam na boca e na garganta,
cansada de expressá-las,
é momento de ouvir o silêncio.
O silêncio nos fala muito
(quando sabemos ouvi-lo),
quando refletimos sobre
o que ele nos traz.
O silêncio das palavras mudas,
em bocas cerradas,
refletem o cansaço
da língua que as articulou...
este mesmo silêncio serve agora
de campo de cultivo
para as ideias há muito faladas
em terras e ouvidos áridos...
aridez que essas palavras,
outrora ditas,
algumas sem eco,
esperam ao menos
ter servido de adubo,
com a verdade nelas contidas.
Se a aridez de outrora
foi tocada pela vida
ali depositada pelas palavra ditas,
que elas possam fazer brotar os gestos
e as palavras cheias de vida,
de verdade, de sons para
desemudecer o silêncio
de bocas cerradas
sexta-feira, 23 de março de 2012
Sexta carta ao filho

Meu filho,
Hoje quero falar com você sobre caminhos e escolhas!
Em muitos momentos de nossas vidas nos vemos diante de uma encruzilhada com vários caminhos à nossa frente sem saber qual devemos escolher. Não há uma resposta para essa dúvida! Uma frase que ouvi há muito tempo me acompanha sempre. Sua autoria é incerta pois atribuem sua elaboração a muitos, entre eles Antonio Machado Ruiz. A frase é simples: “Caminhante, são teus passos o CAMINHO e nada mais; caminhante, não há caminho: faz-se o caminho ao andar.”. Acredito que essas poucas palavras traduzam a grandeza de nossas escolhas quanto a que caminhos seguir. É através de nossos passos que vamos construindo nosso caminho. Nos caminhos encontramos pedras, lama, perigos, alegrias, flores e um sem número de elementos que nos servem de pontos para avaliar se nossa escolha foi correta ou não.
Enquanto caminhamos surgem obstáculos e perigos que podem nos impedir de chegar ao fim desta caminhada ou ao encontro daquilo que objetivamos para nossa vida e por isso a escolha de caminhos deve ser muito bem pensada para que não nos arrependamos depois.
Se obstáculos são inevitáveis não poderemos fugir deles, mas poderemos nos precaver para não nos ferirmos neles. Se há buracos no caminho precisamos ficar atentos para não cairmos neles. Tombos fazem parte de nossa vida, mas não quer dizer que tenhamos que cair sempre. Cair tem que ser uma escolha e está intimamente ligado às outras escolhas de nossas vidas.
Ainda nos caminhos escolhemos aqueles que nos acompanharão e é aí que as coisas podem dar certo ou errado pois companheiros de caminhada nem sempre o são de verdade. Podem ser aqueles que caminharão ao nosso lado por um tempo, por algumas léguas mas que podem nos deixar na primeira encruzilhada ou se porventura não optarmos pelo mesmo caminho por eles escolhidos, caso firam nossos valores por exemplo. Outros serão companheiros para as festas e alegrias mas, faltando isso, não estarão sempre ao nosso lado. Podem ainda nos deixar para trás quando caímos ou nos ferimos precisando da ajuda física, emocional ou espiritual. Nestas horas somente poderemos contar com aqueles que verdadeiramente nos amam e compactuam os mesmos valores.
Há uma frase popular que diz “Diga-me com quem anda e te direi que és!”. É importante refletirmos sobre ela no sentido que não é por andarmos com aqueles que estão fora de nossos valores necessariamente teremos de ser como eles. As escolhas são individuais e quando pautadas em valores verdadeiros, firmemente enraizados em nossos seres, necessariamente não precisaremos nos perder. As águas fortes de um rio, caminhando rumo ao mar, passam por águas barrentas, pântanos mas seguem corajosamente em frente, sem que a contaminação as impeça de desaguar no mar, de alcançar seu objetivo maior.
Ao escolhermos um caminho, qualquer um deles, podemos ou não contar com aliados que realmente dariam a vida por nós. Esses aliados, no entanto, não são obrigados a nos seguir no caminho escolhido caso não seja um caminho baseado em seus valores também. Eles nos alertarão, insistirão para que repensemos e poderão até se cansar de fazê-lo tantas vezes quando não ouvimos de verdade, quando as palavras são apenas repetidas e se perdem ao vento por não fazermos dela elementos de nossas vidas. Aliados, no entanto, são valiosos em nossas vidas pois poderemos contar sempre com eles, irmanados por valores maiores refletidos em vidas únicas com objetivos semelhantes. Não vale a pena perdê-los!
Escolher é algo que depende apenas de cada um de nós e não necessariamente faremos as mesmas escolhas! Porém, a partir das escolhas feitas, precisaremos lidar com as perdas e os ganhos que elas nos trarão e por isso é tão importante pensarmos bastante antes de assumirmos este ou aquele caminho. Será que as perdas compensarão em relação aos ganhos? Será que as perdas poderão ser revertidas quando cairmos em si das escolhas feitas? Nem sempre! Algumas perdas, quando consolidadas, não oferecem a opção de retorno. Se escolhermos um caminho para solidão dos nossos passos, deixando de lado aqueles que realmente estão em nossas vidas poderemos deixar para trás uma vida que não terá volta e precisamos refletir sobre o peso destas perdas.
Talvez você esteja se perguntando se sempre fiz as escolhas corretas em minha vida. Lógico que não e algumas tive que amargar as consequências e as perdas que me trouxeram. Algumas puderam ser revertidas e outras, das quais me arrependo, não! Ainda erro e como todo ser humano seguirei errando mas assumi um credo pessoal ou um mantra que me alerta quando me deparo com alguma escolha muito importante em minha vida. A frade é de um xamã norte-americano chamado Don Juan e é assim: “Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. (...) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias... Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.” Posso te dizer que muitas de minhas escolhas se basearam neste julgamento e você é prova cabal disso.
Termino esta carta, meu filho, pedindo que além de refletir sobre as palavras anteriormente escritas, complete sua reflexão com a frase de Antoine de Saint-Exupéry, “Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”.
Continuo te amando.
Um beijo,
Seu pai
quinta-feira, 22 de março de 2012
Quinta carta ao filho

Hoje quero refletir com você sobre o orgulho.
O orgulho quando utilizado de forma positiva traz energias novas e renovadas para as pessoas. Quando sentimos orgulho da atitude de alguém que conquistou algo importante, cresceu, venceu obstáculos e segue em frente sem perder seus valores, devemos compartilhar este sentimento com os demais. Este é o orgulho positivo! Resultado de um caminho percorrido e de valores solidamente construídos. É nesses momentos que dizemos: “Me orgulho de você!”
Posso dizer que muitas vezes essas palavras saem de minha boca quando me refiro a você!
O orgulho quando utilizado de forma negativa é um dos piores inimigos das pessoas que se amam. O orgulho, na perspectiva negativa é o grande inimigo da humildade. Orgulho, neste caso, é a incapacidade de lidar com os próprios erros ou compartilhá-los com as pessoas ao nosso redor, quer sejam muito ou pouco amadas. Vitimada por esse orgulho a pessoa não é capaz de admitir que errou e que precisa retomar algo para poder seguir adiante na harmonia da vida, das relações da vida. Abrir mão do orgulho é revestir-se de humildade e utilizá-la para uma reaproximação da pessoa ferida pelo nosso erro. É fácil fazer isso? Com certeza não é e quando cultivamos o orgulho, ainda que sabendo que devemos vencê-lo agimos de forma egoísta conosco e com o outro, afastando de nossas vidas pessoas que são importantes. Quando nos revestimos do orgulho não conseguimos conversar com a pessoa sobre o erro, o que deve ser feito para evitar erros futuros. Aliás, devemos cometer erros novos sempre, pois os erros velhos devem se consolidar em aprendizagens, nos afastando dessa forma de errar. Errar, assumir o erro, pedir desculpas e depois incorrer no mesmo erro não é sinal de aprendizado!
Ontem falamos sobre o egoísmo e se ele é prejudicial, imagina quando aliado ao orgulho?
Ainda sobre o orgulho, precisamos pensar em como vencê-lo pois uma vez que os laços de união vão sendo roídos por ele fica cada vez mais difícil a reaproximação e a manutenção da relação ali vivida. De repente pode ser tarde quando decidirmos voltar atrás, retomar atitudes, valores e deixar o orgulho de lado para pedir desculpas sinceras que servirão como compromisso assumido para mudanças efetivas. O orgulho pode nos lançar na solidão do mundo e da vida, sem rumo e sem o amor que ora tivéramos.
Falando em mudanças, elas só podem ocorrer quando realmente queremos que elas ocorram. Quando não as queremos ou nos acomodamos na mesma situação, usamos argumentos de que “sempre foi assim” ou “sempre fui assim”. Só não muda quem resolveu se estacionar na vida. A vida passa adiante e essas pessoas ficam à margem dela, sofrendo sem ajuda pois graças ao orgulho e o fato de não assumirem seus erros para corrigi-los verdadeiramente, acabam ficando sozinhas, pois deixaram-se distanciar das pessoas amadas.
Se mudanças são necessárias por que relutamos tanto em fazê-las? Talvez por nos acomodarmos em zonas de conforto que um dia não mais nos servirão. Talvez por deixarmos de lado os valores que nos ensinaram ou ainda por deixarmos que o orgulho nos afaste de nossa verdadeira natureza.
São muitas perguntas para desconhecidas respostas, mas que mesmo assim precisamos fazer para nós mesmos se queremos viver em harmonia com aqueles que amamos. Mas de todas, uma pergunta que deve sempre ser feita é “se queremos viver com essas pessoas e com esses valores”? Mesmo nas respostas negativas, o orgulho não pode nos impedir de dizer isso para quem nos é importante. Reflita sobre isso meu filho!
Continuo te amando.
Um beijo,
Seu Pai!
quarta-feira, 21 de março de 2012
Quarta carta ao filho

Hoje te escrevo para falar sobre valores, um tema que há tempos tenho batido com você.
O que são valores? São algo que adentra nossos seres e que não nascem conosco. Valores não são biológicos, não estão presentes nos genes e nem são transmitidos de pai para filho. Valores são adquiridos pelo convívio social, pelo cotidiano das pessoas e pelo contato com a família. Introjetar os valores significa mudar atitudes, deixar de lado aquelas que nos afastam deles, pois os valores se tornam uma espécie de segunda pele e tirá-la dói muito, agride e machuca. Por isso ao assumirmos valores nos transformamos para sempre!
Somente os homens podem desenvolver e aprender valores e é isso que nos torna tão especiais e diferentes. Valores não são iguais e por isso acabam entrando em conflito com os valores dos outros, trazendo dissabores e causando atritos.
Os valores diferenciam os seres humanos tornando-os especiais para aqueles que compactuam os mesmos valores, no caso aqueles que nos amam e nos deram tais valores.
Seguir ou não os valores ensinados e combinados é uma escolha individual que não pode ser feita por ninguém a não ser por quem os vive. Porém, ao pensarmos nas escolhas, devemos lembrar que são os valores que nos definem enquanto seres humanos e enquanto seres daquele convívio ou cultura. A quebra de valores significa a ruptura de laços que foram forjados em outros tempos.
Quando deixamos de lado os valores assumidos, perdemos nossas identidades e com isso deixamos de lado quem verdadeiramente somos. Quem é você? Quais valores o guiam? Primeiro você precisa se encontrar com seu íntimo para depois poder se encontrar com outras pessoas não é? Pense nisso!
Por serem particulares, ainda que oriundos da coletividade, valores nem sempre são iguais a de outras pessoas com as quais conviveremos pela vida afora: amigos, parentes, colegas entre outros. Por isso quando optamos por seguir os valores de família nem sempre os teremos compatíveis com os de outras pessoas, ainda que convivamos diretamente com elas. Daí advém a necessidade da escolha consciente sobre quais valores queremos seguir lembrando que não é possível seguir valores incompatíveis sem ferir um ou outro. Isso é viver! E seguir valores não quer dizer que não tenhamos que aprender a conviver com os valores dos outros. Isso é conviver.
A ausência de valores compromete relações múltiplas e afasta pessoas pois os mesmos valores que unem os seres podem ser a destruição dos mesmos quando cessam, deixam de existir ou se perdem em outros passos.
Quando os valores entram em colapso, falham, acabamos por perecer nos desvios das virtudes. Um sem número de desvios nos tornam diferentes daquilo que um dia fomos, dentro dos valores assumidos. Um deles, para citar apenas um, é o egoísmo! Egoísmo é a falta de capacidade de pensar nos demais, pensando apenas em nosso próprio bem estar. O egoísta não consegue pensar que suas atitudes, ou falta delas, ferem os valores de quem os ama e por estarem pensando apenas em si mesmos, esquecem que do outro lado, há quem pense neles preocupados com a condução dos valores que lhes são importantes. Seria como dizem alguns italianos “estando bem minha barriga...”.
Com tudo isso pergunto como se pode viver dentro de valores, escolher esses valores se algumas vezes nos esquecemos deles? Não consigo encontrar uma solução pois, se valores são nossa segunda pele, como podem ser esquecidos? Esquecemos aqueles valores que não se tornaram essa segunda pele e por isso não nos acompanham em todos os lugares.
Reflita sobre essas palavras e principalmente sobre os valores pois somente eles poderão realmente torná-lo um ser único, o ser único a quem emano o meu amor de pai.
Continuo te amando.
Um beijo,
Seu Pai!
terça-feira, 20 de março de 2012
Terceira carta ao filho

Meu filho!
Faz um tempo que não te escrevo. Não por não ter assunto mas sim por não parar para fazer uma carta para você. Aliás, como já disse algumas vezes, a carta tem um poder maior do que as palavras faladas pois, de posse dela, é possível retomá-la e refletir muitas e longas vezes sobre o que está escrito.
Refletindo chego a conclusão que filhos mudam radicalmente a vida de qualquer pessoa. Nada é como antes com a chegada daqueles que consumirão a vida de quem os ama de forma incondicional, ainda que isso nem sempre fique claro.
Sua chegada em minha vida fez com que muitas coisas mudassem em minha forma de viver, de tocar o barco, pensando só em mim, para dividir meus pensamentos com você e com sua vida também. Essa mudança de pensar acaba transferindo alguns poderes ao filho de forma que ele passa a ter o poder de alegrar, magoar entre outros que se desenvolvem na relação pai e filho. Com você não é diferente!
Você fez escolhas que não são de meu agrado, que não aprovo mas por outro lado vejo você respeitando meu papel e exigências de pai quanto a isso. Na sua cabeça essa escolha te daria autonomia, pelo menos para ir e vir. Conversemos sobre autonomia!
Autonomia é muito mais do que ir e vir, do que se achar crescido demais para fazer o que bem entender e não dar satisfações ao mundo. Autonomia exige maturidade e isso ainda lhe falta! Autonomia exige ter a capacidade de resolver sua vida sem precisar do apoio daqueles que te cobram e que muitas vezes, em sua forma de falar, enchem o saco com as cobranças. Autonomia exige que você se assuma e toque seu barco ainda que em águas tempestuosas, sem ninguém para segurar o leme quando o mar bravio insistir em te tirar do rumo certo. Autonomia exige viver os valores ensinados e combinados ainda que a tempestade te tire a visão do oceano por onde navega. Autonomia é isso e muito mais e me desculpe a franqueza de pai, ainda falta muito para você atingi-la.
Outro poder que o filho tem é de chatear o pai pela falta de coisas simples. De sua escolha, por mais distante que eu queira me manter, que você insiste em me colocar próximo, dividindo comigo algumas coisas, esquecendo porém, que o mais importante, que saiu de sua boca, você não tem dividido. A comunicação melhoraria, foi o que ouvi de você, mas isso não aconteceu. Aí me pergunto: por que me preocupar tanto, me chatear se isso é algo só meu? Se enquanto me chateio e me preocupo, você tem coisas mais importantes para viver e fazer e não se preocupa com o que vai na minha mente?
Insegurança como você costuma dizer sempre, como a usar uma arma que você ainda não percebeu que já perdeu seu fio. Insegurança não entra em questão aqui mas sim a preocupação somente minha. Aí fico pensando se não deveria estar chateado com você e sim comigo por permitir que você use seu poder de filho para me chatear. Se te dei esse poder, a culpa é minha e agora preciso pensar em como tirá-lo de você para que possa viver sua autonomia sem que eu o perturbe pois de que vale a chateação se algumas coisas não vão mudar?
Quando você chegou em minha vida, alguns valores já estavam em você, valores diferentes dos meus e muitos novos você assumiu, incorporou e se modificou, valores que nós construímos juntos e que agora, pela segunda vez peço que pense: são esses os valores que você realmente quer seguir? Pois como já te disse os outros valores são incompatíveis e com eles não teremos a harmonia que eu sonhei para nossa vida como pai e filho.
Escolha seu caminho, siga-o mas não se esqueça que eu não tenho que, obrigatoriamente, estar nele caso seu caminho seja muito distante daquele onde marco meus passos. A vida ensina e muito te ensinará e algumas coisas somente quando tiver seu filho ficarão claras para você. Pense! Use sua inteligência e sensibilidade para perceber o que está nessas palavras e o que ficará ou não com você. Como disse no começo, uma carta deve ser lida muitas vezes e refletida mais vezes ainda. As palavras são mágicas e nos trazem significados ocultos. Encontre-os!
Por ora é isso meu filho. Penso em como não me chatear e conseguirei isso com certeza, com consequências sempre, mas pelo menos com a razão imperando onde a emoção e o sentimento não tem feito eco e falhado incessantemente.
Palavras quando não se tornam atitudes são vazias e se perdem ao vento. Somente quando assumimos algumas atitudes é que elas se consolidam e modificam nossa forma de agir isso é, quando queremos mudar!
Continuo te amando!
Um beijo,
Seu Pai!