
Contento-me com migalhas
que me são lançadas
por mãos caridosas
como a alimentar
a fome que me vai na alma,
no coração...
Migalhas que já não me satisfazem,
que não saciam minha fome,
a dor da solidão,
o vazio que me vai na alma.
Migalhas que já nem sei se quero
que penso em deixar ali,
no chão, onde foram lançadas
para que aquelas mãos,
aqueles olhos,
aquele coração
perceba
que de migalhas
não se vive em plenitude.
Talvez seja hora
de bater asas para longe,
esquecer das mãos que
ali,
por tempos,
lançaram as mesmas migalhas
que me satisfaziam,
me deixavam feliz,
sorrindo,
como se viver fosse isso.
Voar, no entanto,
seria libertar-me
dos grilhões do solo,
para poder receber
o calor do sol,
em outros céus
de outros azuis,
sem olhar para trás,
sem nem mesmo
lembrar do gosto
das migalhas outrora recebidas.
As asas se abrem ao sol.